Pecuária industrial aumenta na Europa
Há mais de 24.000 explorações de pecuária intensiva em toda a Europa e muitas continuam a crescer em tamanho ao modelo americano. Os representantes dos pequenos e médios agricultores denunciam a desigualdade crescente no setor, os ativistas os impactos ambientais e a crueldade para com animais.
Esquerda.net, 14 de junho de 2025
Jornalistas de seis países, incluindo meios de comunicação social como o Corriere della Sera, o The Guardian, o IRPI media, o Euroactive, o Wyborcza e o El Confidencial, juntaram-se numa investigação que mostra um crescimento da “pecuária industrial” na Europa a par com um decréscimo das pequenas quintas.
Em 2023, havia mais de 24.000 explorações deste tipo, 11.672 suiniculturas e 12.415 explorações avícolas. A Espanha é aquela onde há maior número de explorações industriais (3.963), seguida pela França (3.075), Alemanha (2.930), Holanda (2.667) e Itália (2.146). Numa década surgiram mais pelo menos 2.949 unidades intensivas e os jornalistas alertam que os números a que chegaram não abrangem a totalidade do fenómeno porque alguns dos Estados-membros da UE, por razões comerciais ou de confidencialidade, não reportarão muitas unidades e alguns dos registos europeus são incompletos. Contabilizando o número de licenças requeridas para a constituição destas pecuárias industriais descobre-se que no Reino Unido e União Europeia têm sido em média 551 ao ano, totalizando mais de 5.000. Isto já para não falar na lacuna regulamentar que faz com que a produção de leite e carne bovina esteja atualmente isenta da obrigatoriedade deste tipo de licenças, apesar de se saber que, em alguns países europeus, um grande número de bovinos é criado em condições semelhantes às de fábricas.
Consideram-se unidades pecuárias intensivas as explorações como 40.000 ou mais aves, 2.000 ou mais porcos de engorda ou 750 ou mais porcas reprodutoras. Mas as chamadas mega-quintas, que seguem o modelo dos EUA, estão numa escala bastante superior com mais de 125.000 frangos para produção de carne, 82.000 galinhas poedeiras ou 2.500 porcos. Apesar de haver limites máximos para o número de animais permitidos, os jornalistas descobriram quem, em muitas das instalações, estes eram excedidos, tendo encontrado pecuárias com mais de 1,4 milhões de galinhas e suiniculturas com até 30.000.
A Comissão Europeia reagiu aos dados afirmando que “o bem-estar animal é uma prioridade chave para esta Comissão e estamos empenhados numa abordagem ampla que assegure que UE mantenha padrões elevados nesta área”, ao mesmo tempo gabando “a capacidade de exportação” do setor que “demonstra a competitividade do setor agro-alimentar”.
Morgan Ody, da Via Campesina, que representa pequenos agricultores e produtores, contrapõe que a investigação reforça “enormes preocupações” sobre o futuro da agricultura na Europa. Uma das coisas que o preocupa são as “desigualdades crescentes” no setor já que “enquanto alguns agricultores muito ricos estão a aumentar os seus rendimentos, a maioria dos pequenos e médios enfrentam situações de dificuldade crescente, ligadas aos custos de produção, preços baixos e subsídios desiguais”.
As explorações pecuárias de estilo industrial levantam problemas de bem-estar animal estando associadas a crueldade sistemática e à imposição massiva de sofrimento desnecessário aos animais. Inês Grenho Ajuda, do Programa de Animais de Quinta do Eurogroup for Animals, afirma nota que milhares de milhões de animais de criação continuam a ser forçados a viver em condições “que a ciência há muito considera inadequadas”, ou seja confinados em jaulas, em explorações industriais sobrelotadas ou transportados em condições de stress. Diz igualmente estar “profundamente preocupada com a atual estagnação política das reformas da legislação sobre o bem-estar animal” porque “cada ano de inação significa mais sofrimento que poderia ter sido evitado com o conhecimento existente e uma melhor legislação”. A Comissão Europeia tinha planeado quatro reformas sobre bem-estar animal no seu programa de trabalho, antes de 2024 retirou três dela, a proibição da criação em jaulas foi uma delas.
A reportagem lembra ainda os impactos ambientais. Dados do Gabinete Europeu do Ambiente que mostram o setor como uma importante fonte de poluição do ar, do solo e da água, “responsável por 12-17 % das emissões totais de gases com efeito de estufa da UE, bem como um dos principais fatores da perda de biodiversidade”. Na peça, sublinham-se situações como a poluição de rios (como o Wye na fronteira entre a Inglaterra e o País de Gales), a contaminação de água potável com nitratos (como em Espanha), a poluição por metano e florações de algas mortais causadas pelo escoamento de nitrato (como na Bretanha, em França), ou a propagação de doenças incluindo a salmonela.