MANIFESTO

MANIFESTO

O mundo está tomado por uma grande inércia. Enfrentamos ameaças terríveis, para as quais caminhamos como sonâmbulos: o colapso climático e ecológico, o surgimento de novos fascismos, o retorno da possibilidade de uma guerra nuclear, os impactos das poderosas tecnologias digitais, o alargamento do abismo das desigualdades

Suas consequências são tão assustadoras, tão devastadoras, que parecem embotar a imaginação e paralisar a vontade de agir. As esquerdas, por dois séculos responsáveis pelos avanços sociais e políticos da humanidade, parecem prisioneiras das mesmices do sistema.

As aspirações utópicas teriam se dissolvido no dilúvio de informações, modulações e entretenimentos das redes digitais?

A esperança teria perdido sua capacidade mobilizadora com o colapso das ideologias do progresso ingênuo e o medo só despertaria intolerância, ódio e violência?

As expectativas coletivas teriam sido rebaixadas a ponto de bloquear a possibilidade de uma práxis emancipatória efetiva?

Nossa aposta é que não.

Há um embotamento da imaginação criadora na política, uma obsolescência de paradigmas políticos seculares, um apego a certezas dogmáticas e formas e linguagens caducas.

Mas há também novas formas de ser e existir, novas possibilidades de se conhecer e agir, o reconhecimento do que tinha sido invisibilizado ou perdido com os mitos da modernidade. 

Há novos sujeitos que podem e devem se somar a velhos protagonistas. 

Há novas gerações que não carregam o cansaço das derrotas das velhas.

Há muita coisa para justificar nossa aposta em que direitos, justiça, democracia, bem-viver possam prevalecer.

Mas para seguirmos trilhas de esperança e horizontes de utopia devemos responder certas perguntas:

É possível um crescimento infinito em um mundo finito? 

A natureza deve ter direitos? 

É possível sobrevivermos se o consumismo subsistir como ideal de felicidade?

A propriedade, o mercado e, dentro dele, o individualismo devem ter limites demarcados? 

As plataformas digitais precisam ser reguladas? 

Os bens comuns não precisam ser defendidos dos interesses privados e geridos de formas comunitárias?

É possível construir uma sociedade democrática de forma opressiva? 

O socialismo do século XX é um caminho a ser retomado ou a ser superado positivamente?

O trabalho não tem gênero e raça? 

Que formas organizativas esta defesa deve ter? 

O comércio entre países não precisa incorporar cláusulas ambientais e sociais?

As paixões que movem corpos e desejos diversos devem poder se manifestar livremente? 

O que entendemos por respeito à diversidade cultural?

A política emancipadora pode continuar restrita aos horizontes dos estados nacionais? 

Problemas que colocam a existência de nossa espécie em risco - do clima às armas nucleares, da sustentabilidade aos direitos humanos - não devem ter respostas globais?

O que são suas respostas senão Rupturas?

"Lute como quem sonha"

— Autor desconhecido