Cibercomunismo: utopias viáveis e contrapoder tecnológico
A humanidade viveu, no século XX, um período de progresso tecnológico e produtivo sem precedentes. Mas ele foi apropriado pela classe capitalista, que usa a tecnologia para se apropriar do tempo das pessoas como um recurso a ser explorado em busca do crescimento econômico infinito. Podemos conceber e colocar em prática um uso emancipatório para a tecnologias digitais?
Ignacio de Grado Galvez, Viento Sur, 10 de junho de 2025. Tradução de Rupturas.
[Este artigo é uma boa síntese da perspectiva pela qual a comunidade hacker travou e perdeu a disputa pelo controle das tecnologias digitais no século XXI. Destaca também a centralidade que essas tecnologias terão em qualquer alternativa ao mercado capitalista como mecanismo de alocação dos recursos nas sociedades futuras. Constitui, desse ponto de vista, uma intervenção bastante útil no debate contemporâneo da esquerda. Mas seu autor subestima, de forma muito evidente, a profundidade da crise climática e ambiental, que escalará nas próximas décadas, alimentará grandes deslocamentos de populações e justifica que nossa formulação estratégica seja a luta por uma sociedade ecossocialista (que, evidentemente, não se contrapõe ao cibercomunismo mas o subsume). Colocando-se no contexto espanhol, Galvez ignora também os problemas de colonialismo digital e soberania de dados, essenciais em um país como o Brasil. Apesar desses limites, é um artigo altamente recomendável para reabrir a imaginação utópica tão necessária em nosso mundo. A frase de conclusão remete ao livro de Philip K Dick que deu origem ao filme Blade Runner, “Androides sonham com ovelhas elétricas?” J.C.]
Desde o início do século XX, a humanidade viveu um período de progresso tecnológico e produtivo sem precedentes. Esse progresso, uma continuação direta da (primeira) revolução industrial, trouxe consigo um número infinito de contradições. Os desenvolvimentos de Franz Haber na química permitem hoje alimentar quase metade da população, mas também criaram um novo e terrível tipo de guerra, a guerra química. A mesma energia atômica que hoje produz 10% da eletricidade do planeta, arrasou Hiroshima e Nagasaki e continua a ameaçar a humanidade de extinção. Longe de ser uma “ciência apolítica”, com desenvolvimentos inerentemente positivos ou negativos, a forma e o uso da tecnologia respondem aos interesses daqueles que a desenvolvem e controlam. Portanto, trata-se de uma questão política do mais alto calibre.
Do ponto de vista econômico, talvez os avanços mais significativos sejam aqueles feitos paralelamente e interconectados desde a Segunda Guerra Mundial nas áreas de Computadores, Telecomunicações, Ciência da Computação e, particularmente relevante para este artigo, Cibernética, que é o campo do conhecimento que estuda os processos de transformação e feedback de informações, estabelecendo uma relação entre entradas e saídas. Esses avanços resultaram, no mundo industrializado desde a década de 1970, no que hoje é conhecido como a terceira revolução científico-industrial.
Paralelamente a essa revolução tecnológica, que pode ter salvado a economia capitalista, a União Soviética, incapaz de se adaptar a tempo, entrou em um período de estagnação e depois entrou em colapso sob pressões internas e externas em 1991.
Desde então, o domínio do sistema capitalista parece total. Vivemos na era do Realismo Capitalista, na qual, como disse Margaret Thatcher, não há alternativa, e até mesmo nossa ficção científica é obcecada por distopias e desastres, incapaz de imaginar futuros melhores. Diante dessa derrota histórica, e longe de cair nas armadilhas da nostalgia, do campismo ou do reformismo, devemos olhar para esses avanços contraditórios que o capitalismo nos proporciona e identificar as fendas pelas quais, se olharmos com atenção, ainda podemos vislumbrar alternativas e potencialmente construí-las. Ou seja: ser capaz de usar os mesmos avanços que salvaram o capitalismo para derrotá-lo e superá-lo.
Produção ciberneticamente planejada
Já na segunda metade do século XX, os avanços em cibernética, automação e robótica começaram a ser vistos como oportunidades para melhorar a capacidade de planejamento econômico e organizar uma sociedade mais justa, na qual as pessoas trabalhariam menos e viveriam melhor. Não foi por acaso, por exemplo, que a Liga Comunista Francesa atualizou o antigo slogan leninista em seu manifesto de 1972 de “Comunismo = Sovietes + Eletrificação” para “Comunismo = Sovietes + Automação”.
Essa identificação do planejamento cibernético como uma ferramenta para o progresso também encontrou apoio desde o início entre os movimentos que não eram explicitamente marxistas. Em especial, no movimento feminista, no qual autoras como Shulamith Firestone ou Dolores Hayden viam o planejamento do trabalho (produtivo ou reprodutivo) e até mesmo da reprodução biológica como uma forma de superar a divisão social do trabalho de acordo com o gênero e a opressão biológica das mulheres; no movimento ambientalista, no qual pessoas como Barry Commoner ou Howard T. Odum propunham um planejamento ecossocial da economia que incorporaria o impacto ecológico de nossa atividade produtiva na tomada de decisões; ou mesmo nos setores politicamente mais ativos da ficção científica, com a lendária Ursula K. Leguin, que descreveu utopias sem dinheiro ou estado, mas com o planejamento racional e consensual do uso de recursos por meio de computadores.
Mas esses anseios não permaneceram meramente especulativos. Em países com projetos socialistas e em uma época em que os planos quinquenais ainda eram elaborados à mão (inegavelmente eficazes, mas também inegavelmente ineficientes), projetos como o OGAS ou o Cybersyn, já na década de 1960 e no início da década de 1970, apresentavam oportunidades para a centralização computadorizada de informações e a coordenação da produção, permitindo uma melhor tomada de decisões em todos os níveis.
No Chile, o projeto Cybersyn, lançado pelo inovador britânico da cibernética Stafford Beer, foi criado para coordenar centralmente a produção e a distribuição em fábricas recém-socializadas. Em uma época em que as reformas radicais do governo de Unidade Popular de Allende enfrentavam um boicote econômico por parte dos patrões, esse sistema possibilitou contornar as formas tradicionais de comunicação econômica (contatos pessoais, contratos comerciais etc.) e teria sido fundamental em uma economia de transição.
Na União Soviética, por outro lado, o trabalho de cientistas como Kantorovich e Kitov permitiu que Victor Glushkov, o pai da cibernética soviética, rompesse o cerco político a essa ciência e propusesse um sistema de planejamento econômico ativo (o OGAS). Esse sistema de vários níveis, com dezenas de milhares de computadores em todo o território, atualizaria os planos quinquenais à medida que as informações reais chegassem das fábricas, substituindo gradualmente o sistema de equilíbrio de materiais e, entre outras coisas, teria significado uma maior autogestão em cada fábrica.
Ambos os projetos foram derrotados. O Cybersyn desapareceu após o golpe militar contra Allende. A OGAS não conseguiu decolar devido à inflexibilidade e à burocracia soviética na Rússia, onde os ministérios guardavam zelosamente seus recursos e competências. Ambos por quererem dar muito poder ao povo.
Apesar de suas limitações, essas correntes e experiências têm em comum uma abordagem que faz parte do marxismo desde sua concepção: o desenvolvimento científico e tecnológico deve estar a serviço da humanidade. Melhorar nossas vidas de todas as formas possíveis. Libertarnos. Porém, sem uma força social capaz de impor a democratização dos benefícios da tecnologia, suas promessas não se concretizam.
E o que dizer do planejamento e da tecnologia no século XXI?
O vertiginoso desenvolvimento tecnológico da terceira e (talvez) incipiente quarta revolução industrial multiplicou a capacidade produtiva das pessoas (em pelo menos cinco vezes em termos reais, no mundo ocidental, no último século). Todos nós temos pelo menos um computador em casa e, pelo menos outrono bolso, o que nos integra em uma rede de troca constante de informações, voluntária ou involuntariamente. Grandes empresas podem planejar a logística, a produção ou até mesmo o desenvolvimento de novos produtos com anos de antecedência de forma independente. E declaramos sermos capazes de automatizar qualquer processo, sendo o custo o único obstáculo.
No entanto, estamos longe de cumprir a previsão de Keynes há 100 anos, de que agora estaríamos trabalhando 15 horas por semana; mal conseguimos trabalhar algumas horas a menos por ano (e mesmo isso em uma estrutura de precariedade e não de conquista histórica). Longe da internet livre que foi imaginada em seus primórdios, que serviria como uma porta de entrada para todo o conhecimento humano e como um local de encontro e colaboração, o que temos hoje a internet como domínio das corporações, que não têm escrúpulos em nos espionar em nome do Estado ou de outras empresas. E, em contraste com o planejamento microeconômico avançado dos grandes conglomerados, sofremos uma anarquia macroeconômica na qual o Estado não está presente e isso nem é esperado - e, ao contrário, intervém ativamente para impor essa debandada produtiva -, e onde a mão invisível do mercado resulta em ineficiências infinitas, superprodução, consumismo para compensar e um mundo cuja habitabilidade estamos destruindo.
Podemos considerar que há dois motivos principais (que na verdade são um grande motivo) para isso. Um, sociológico/político, nos diz que, no capitalismo, a classe dominante, a burguesia, usa o tempo das pessoas como um recurso a ser explorado em busca do crescimento econômico infinito. Portanto, não importa o quanto nossa eficiência aumente. Quanto mais eficientes formos, mais nos será exigido para sobrevivermos e, portanto, mais teremos de produzir.
A segunda razão é cibernética e afirma que o capitalismo, como sistema de planejamento da produção e distribuição de bens e produtos, está fadado a ter resultados imperfeitos em termos de satisfação de nossas necessidades reais. Em primeiro lugar, porque trabalha com informações incompletas e fragmentadas: cada empresa toma suas próprias decisões com as informações parciais que possui e busca maximizar seu lucro. E, em segundo lugar, porque concentra todas as informações sobre as consequências de suas ações nesse único valor de troca e produto a ser maximizado: o dinheiro. Dessa forma, uma grande quantidade de informações é destruída, já que nem todo o impacto de, por exemplo, de secar o Parque Nacional de Doñana, pode ser quantificado economicamente.
Duas conclusões
A primeira é que, se conseguíssemos unificar todas essas informações econômicas, demográficas e ecológicas e incorporar ao nosso planejamento econômico outros resultados/produtos a serem maximizados - como a expectativa de vida ou a redução dos gases de efeito estufa -, poderíamos obter um sistema muito mais eficiente e eficaz para atender às nossas necessidades, agora e a longo prazo.
Apenas com o nosso nível atual de tecnologia, já seríamos capazes de prever em detalhes o impacto de nossas decisões econômicas e, ao escolher democraticamente nossas prioridades, poderíamos alocar recursos materiais e humanos de forma muito mais coerente, resolvendo problemas como a escassez de alimentos e moradias de forma quase trivial. Poderíamos escolher quais processos deveriam ser automatizados e quais poderiam ser desindustrializados de acordo com nossos critérios e não com os do lucro econômico, aceitando que os limites biofísicos de nosso planeta nos impedem de robotizar tudo e, ao mesmo tempo, que algumas coisas são melhores quando são artesanais ou envolvem mais humanidade.
E, acima de tudo, se decidíssemos (e acredito firmemente que essa seria uma das primeiras decisões de qualquer sistema verdadeiramente democrático) promover uma redução significativa da jornada de trabalho, passaríamos imediatamente a ter uma vida mais saudável, mais livre e profundamente plena. Uma grande expansão do tempo livre nos permitiria embarcar em um número infinito de projetos pessoais, de formação técnica, humanística ou científica, sem objetivo maior do que a busca da satisfação pessoal e da conexão humana; mas também em projetos políticos, podendo dedicar muito mais tempo para deliberar, organizar, filosofar e estabelecer metas tão ambiciosas quanto a superação do Estado, do gênero ou da alienação. Uma economia democraticamente planejada é apenas o começo da verdadeira revolução.
A segunda conclusão, aterrissando um pouco nas divagações “utópicas” anteriores, é que, sem uma força social maciça e organizada, que possa impor sua vontade aos interesses de curto prazo da burguesia, toda essa capacidade técnica permanecerá sob o jugo dessas mesmas pessoas, arando os campos de crescimento infinito em um planeta finito. O caso da crise climática mostra isso mais do que qualquer outro: apesar do consenso quase absoluto entre os cientistas sobre a necessidade de uma mudança radical na forma como produzimos e consumimos, nosso sistema mal está reagindo e estamos mantendo um curso que só pode terminar no naufrágio mais desastroso da história do planeta. Não basta saber o que é melhor para todos. Não é suficiente ter a capacidade técnica para fazer isso. Portanto, devemos criticar veementemente o tecno-otimismo ingênuo ou, pior ainda, a crença de que uma tecnocracia poderia ser possível (não vamos nem mesmo discutir sua conveniência) sem a abolição da propriedade privada.
É por isso que considero útil falar sobre o cibercomunismo. É importante que, em um momento de derrota histórica do socialismo, possamos criar novas visões do futuro que queremos e, ainda mais importante, deixar clara essa possibilidade. Embora estejam longe de ser visões fechadas ou proféticas precisamos, para construir uma força social capaz de se organizar em torno de um programa revolucionário, também reconstruir utopias viáveis, em constante diálogo com a realidade, os desenvolvimentos tecnológicos e os anseios das pessoas. Em uma época em que não nos resta nada do socialismo realmente existente, não temos escolha a não ser dar um passo atrás e identificar e construir o socialismo que é realmente possível.
Rumo a um contrapoder tecnológico
Por fim, agora que estabelecemos os fundamentos de uma teoria e um horizonte cibercomunista - de planejamento democrático, cibernético e computacional para a economia (que é o foco desta pequena corrente até agora) -, gostaria de dedicar algum espaço para explorar o que a práxis cibercomunista correspondente poderia implicar.
O lado bom de ter identificado a tecnologia como uma frente aberta na luta de classes é que, ao contrário de outras frentes (é difícil montar uma mina de coltan em nosso porão ou fechar uma no Congo), a tecnologia moderna e, especificamente, a internet, exige a participação de praticamente toda a população, que a utiliza para trabalho, comunicação, lazer...
Essa massa crítica de pessoas, combinada com a natureza interconectada e semi-livre da troca de informações da internet, permite o surgimento de um número infinito de projetos, ferramentas e coletivos grandes e pequenos que, consciente ou inconscientemente, confrontam o controle privado da rede e da sociedade.
Por exemplo, o hacking é uma experiência quase universal que compromete seriamente o controle sobre a propriedade intelectual e que, quando aprofundado, leva rapidamente a ferramentas como VPNs (as redes virtuais privadas), que buscam conscientemente escapar do controle estatal. Isso é ainda mais ambicioso em projetos para abolir a propriedade intelectual sobre o conhecimento científico, como o Sci Hub de Alexandra Elbakyan (que explicita seu entendimento comunista da tarefa em questão) ou o trabalho de Aaron Swartz. Assim como o contrabando no antigo Bloco Oriental, seja de bens de consumo, informações ou arte censurada (conhecida como Samizdat), essas brechas no controle do sistema são organicamente procuradas pelas pessoas, em busca da satisfação de suas necessidades e curiosidade de maneiras que não podem mais fazer legalmente. Não devemos subestimar seu impacto.
Projetos colaborativos como as inúmeras ferramentas de código aberto e software livre, ou mesmo comunidades de “mods” (modificações) em videogames, nos oferecem caminhos de criação livre e coletiva, sem nenhum outro benefício que não seja o uso do que criamos ou mesmo o puro amor à arte. Ao mesmo tempo, ferramentas digitais que vão desde sistemas operacionais e servidores descentralizados até aplicativos de edição de imagens ou de mensagens são tecnologias desenvolvidas por nossa própria classe e mantidas sob nosso controle, expandindo nosso arsenal para nos comunicarmos (internamente e com a sociedade) e trabalharmos independentemente das corporações.
Muitas pessoas da minha geração puderam explorar suas identidades sexuais e de gênero pela primeira vez nos inúmeros fóruns e espaços sociais da internet, ou até mesmo questionar de forma mais ampla a identidade e as ideias políticas que lhes foram dadas (voltando novamente ao acesso à literatura “pirata”). Embora eu ache que seu papel na capacidade de auto-organização política de nossa classe possa ter sido superestimado (especialmente depois da Primavera Árabe), manter ou criar espaços independentes para reuniões e comunicação online continua sendo fundamental para criar alternativas às redes sociais hegemônicas e à contra-hegemonia em geral. Isso é ainda mais importante em meio a um processo contínuo de algoritmização da web, com vieses marcados pelos oligarcas que detêm o controle das principais redes sociais.
E, por fim, questões como o apagão na Espanha e em Portugal (inicialmente especulado como tendo sido originado de um ataque cibernético) ou as armas impressas em 3D usadas por Luigi Mangione ou na guerra civil de Mianmar nos lembram que, em uma situação de conflito aberto, estar equipado com uma forte capacidade tecnológica pode ser a diferença entre a vitória e a derrota. Uma greve geral no século XXI deve, por exemplo, ser acompanhada de ataques cibernéticos maciços à infraestrutura crítica.
Essa variedade de ferramentas práticas e ideológicas oferecidas pela internet, o surgimento de dinâmicas pós-capitalistas consideráveis, a contestação da propriedade intelectual e a incorporação de novas camadas da sociedade em uma dinâmica de confronto com o capitalismo (inicialmente, talvez, identificado com as grandes empresas) é o motivo pelo qual acredito que as mulheres revolucionárias devem participar conscientemente das lutas pela libertação do ciberespaço ou, pelo menos, acompanhar de perto seu potencial.
Hoje a maioria dessas comunidades e dos indivíduos (programadores, hackers, ativistas...) que mantêm essas redes de trabalho, informação e até mesmo espionagem não são marxistas, e desconhecem o ato profundamente político do qual participam. Portanto, podemos e devemos especular sobre o fortalecimento, a coordenação e o armamento ideológico dos coletivos que habitam a rede e, aprendendo com eles, educar as pessoas no uso de ferramentas livres e ser capazes de desenvolver as capacidades técnicas de nossas organizações e movimentos. Dessa forma, podemos usar essa luta na Frente Digital como uma ponta de lança (uma de muitas) na luta pela tecnologia e, em última instância, pelo controle da produção.
Acredito que essa disputa consciente pelo controle da tecnologia, começando pela internet, em diálogo com um horizonte de planejamento cibernético de toda a economia, enfatiza a questão de colocar a tecnologia a serviço da humanidade e de sua emancipação e, portanto, é digna do título de cibercomunismo.
Observações finais
Vivemos em uma época em que o domínio do capital é sustentado (pelo menos em parte) pela mão de ferro da tecnologia, em que muitas das maiores empresas do mundo baseiam suas atividades em serviços e produtos tecnológicos e em que alguns proclamam (de forma simplista e apressada) a chegada do tecnofeudalismo.
Diante dessa realidade sombria, o cibercomunismo pode ocupar o nicho de um discurso e de uma análise revolucionários sobre a tecnologia de nosso tempo. Ele permite que a integremos em nossos horizontes, fundamentando materialmente nossas demandas (por exemplo, por um ecossocialismo que feche a lacuna metabólica do planeta ou até mesmo por uma reimaginação das relações humanas) e centralizando novamente termos como “planejamento democrático”.
Mas também nos permite incorporar ferramentas que nos atualizam com o nosso tempo, reconhecendo as dimensões técnicas do conflito (por exemplo, a luta nas redes não se dá em um tabuleiro justo, meramente discursivo) e oferecendo caminhos pelos quais, a médio prazo, poderíamos nos rearmar, permitindo-nos avançar qualitativa e quantitativamente como organizações revolucionárias.
Resumindo, lutar por um futuro significa imaginá-lo. Construí-lo é conectá-lo a uma realidade. Construí-lo é conectá-lo às nossas experiências diárias.
Vamos sonhar novamente com ovelhas elétricas (e socialistas).