Entenda o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF)
O TFFF, na sigla em inglês, deverá ser lançado na COP30 como aposta para chegar ao desmatamento zero nos biomas estratégicos e para conter o aquecimento global
Claudia Antunes, Sumauma, 18 de setembro de 2025
O que é o TFFF?
O Fundo Florestas Tropicais para Sempre é um fundo internacional de investimentos financeiros proposto pelo Brasil, que pretende lançá-lo na COP30. A ideia é distribuir parte dos rendimentos do fundo para os países com florestas úmidas conservadas. No Brasil, florestas úmidas são a Floresta Amazônica e a Mata Atlântica. O objetivo do fundo é remunerar os “serviços ecossistêmicos” que esses biomas prestam a todo o planeta, para conter o aquecimento da Terra, regular o clima e manter a biodiversidade.
Quem entraria com o dinheiro?
O TFFF pretende arrecadar um capital inicial de 25 bilhões de dólares (135 bilhões de reais) de países e entidades filantrópicas, chamados de “patrocinadores”. O Brasil, embora espere receber dinheiro do fundo, poderá entrar também como patrocinador. Esse capital é um empréstimo, a ser remunerado com juros todos os anos e devolvido em 40 anos.
Como funciona?
Esse dinheiro seria a garantia para a emissão de mais 100 bilhões de dólares (540 bilhões de reais) em títulos, que serão vendidos no mercado internacional a grandes investidores, como fundos de pensão e bancos.
Quanto ganha quem investe?
Os juros pagos anualmente aos patrocinadores seriam equivalentes ao que é pago hoje por títulos do Tesouro dos EUA, ou cerca de 4,5% ao ano sobre o valor investido. Os investidores privados receberiam um pouco mais que isso, por volta de 5%.
Como o dinheiro seria administrado?
O total levantado – idealmente 125 bilhões de dólares (675 bilhões de reais) – seria investido em papéis que pagam juros maiores, tanto de países, preferencialmente aqueles “em desenvolvimento”, quanto de corporações. Uma lista excluiria o investimento em negócios poluentes, como os de petróleo, gás natural e carvão.
O que seria feito com o rendimento?
Os rendimentos desses papéis pagariam primeiro os juros dos investidores privados no TFFF, depois os juros dos patrocinadores e finalmente os países florestais. Caso ainda sobre dinheiro, ele será guardado como capital próprio do fundo, que ficará em nome dos países com florestas. Essas nações receberiam por ano 4 dólares (21,6 reais) por hectare de floresta em pé, caso o fundo consiga juntar os 125 bilhões de dólares.
Que países poderiam receber?
A proposta lista 74 países com florestas tropicais e subtropicais úmidas, que, juntas, somam mais de 1 bilhão de hectares. No Brasil, essa classificação inclui a Floresta Amazônica e a Mata Atlântica.
Qual é a contrapartida?
Para receber pagamentos do fundo, um país precisa ter uma taxa de desmatamento de no máximo 0,5% ao ano. Se ultrapassar, terá que reduzir o desmate para poder receber pagamento. Mas, mesmo o desmatamento sendo inferior a 0,5%, ainda assim o país será penalizado com descontos no pagamento anual. Também haverá desconto para florestas degradadas pelo fogo.
Como funcionam pagamentos e descontos?
Acima de 0,5% ao ano de desmatamento, não recebe nada; abaixo de 0,5%, há descontos no pagamento total: até 0,3%, será descontado o pagamento de 100 hectares para cada hectare desmatado; entre 0,3% e 0,5%, será descontado o pagamento de 200 hectares para cada hectare desmatado. Só não haverá descontos se o desmatamento for zero.
Para quem iria o dinheiro?
Para o Tesouro dos países florestais, que poderão usá-lo em programas e políticas voltados “direta ou indiretamente” para a conservação das florestas. Esses países teriam que se comprometer a entregar ao menos 20% do dinheiro que receberem diretamente para comunidades indígenas e tradicionais das florestas, os “guardiões” desses biomas. O Brasil estima que poderia receber o equivalente hoje a 800 milhões de dólares por ano, ou 4,3 bilhões de reais – deste total, 160 milhões de dólares, ou 861 milhões de reais, iriam para os povos das Florestas.
Como o dinheiro das comunidades será administrado?
As comunidades indígenas e tradicionais terão que criar instituições para administrar o dinheiro e uma conta bancária exclusiva em cada país beneficiado. Haverá ainda a opção de receberem o pagamento por meio de uma agência internacional.
Como o fundo seria governado?
O TFFF seria administrado por duas entidades. Uma é o fundo em si, com um conselho de sete pessoas, recrutadas segundo critérios estabelecidos pelos países patrocinadores. A outra, encarregada da relação com os países florestais, teria um conselho de 18 integrantes: nove indicados pelos países florestais e nove pelos patrocinadores.
Quem faria a ponte entre essas duas entidades?
O Banco Mundial deverá decidir em outubro se aceita a proposta de abrigar o TFFF. Se aceitar, além de fazer a ponte entre os dois conselhos, teria também outras funções, como supervisionar os investimentos do fundo.
Texto: Claudia Antunes
Edição: Eliane Brum
Ilustração: Caio Alvex
Edição: Edição de arte: Cacao Sousa
Edição de fotografia: Lela Beltrão
Checagem: Plínio Lopes
Revisão ortográfica (português): Célia Arruda
Tradução para o castelhano: Meritxell Almarza
Tradução para o inglês: Diane Whitty e Maria Jacqueline Evans
Montagem de página e acabamento: Natália Chagas
Coordenação de fluxo editorial: Viviane Zandonadi
Editora-chefa: Talita Bedinelli
Diretora de Redação: Eliane Brum