A União Europeia capitulou face a Trump

Este é um acordo de vassalagem que cumpre os objetivos dos EUA: a UE apoiará o seu crescimento à custa de austeridade interna, dependerá do petróleo e das armas do outro lado do Atlântico e não tocará nos rendimentos dos gigantes tecnológicos dos EUA. A vitória de Washington é total.

Romaric Godin, Esquerda.net, 28 de julho de 2025

Uma derrota em campo aberto. Concedida sem luta. No domingo, 27 de julho, entre algumas partidas no seu campo de golfe de Turnberry, na Escócia, o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou a finalização de um acordo comercial com a União Europeia. Durante todo o fim de semana, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, tinha negociado nas imediações do campo de golfe escocês com um único objetivo em mente: evitar as taxas alfandegárias de 30% que Washington ameaçou impor aos produtos europeus caso não houvesse acordo até 1 de agosto.

Visto a partir desta ameaça, a UE pode julgar que se saiu bem. Assim, será imposta uma taxa alfandegária global de 15% aos produtos europeus em território norte-americano. Mas este alívio não nos deve fazer esquecer três elementos muito desfavoráveis aos europeus.

Em primeiro lugar, este imposto aduaneiro é assimétrico e é acompanhado pela ausência de impostos aduaneiros recíprocos para os produtos dos EUA que, portanto, passarão a competir com os produtos europeus nos seus mercados sem restrições.

Em segundo lugar, este imposto aduaneiro é superior ao nível de 10% aplicado desde 2 de Abril. Portanto, haverá um aumento do preço dos produtos europeus no mercado norte-americano. Isto é especialmente verdade porque o nível do ano passado era inferior a 5%. Certo, a tarifa sobre os automóveis é reduzida de 25% para 15%, mas Donald Trump deixou claro que esta tarifa não se aplicará aos produtos farmacêuticos e à metalurgia. O aço e o alumínio europeus continuarão sujeitos à atual tarifa de 50%, o que efetivamente fecha o mercado dos EUA aos produtos europeus.

Por último, o acordo inclui compromissos consideráveis da parte da UE. Desta forma, o bloco compromete-se em investir mais 600 mil milhões de dólares nos Estados Unidos, três vezes o valor do excedente comercial bilateral alcançado pelos europeus em 2024. Isto é ainda mais difícil de aceitar, dado que a Zona Euro sofre de sub-investimento crónico há anos e que este é um dos problemas do crescimento relativamente fraco da região.

Mas a isto se junta um montante de 750 mil milhões de dólares em gastos em “produtos energéticos” dos EUA. Também aqui a pílula é difícil de engolir para uma União Europeia que, há não muito tempo, se afirmava pioneira na luta contra o aquecimento global. Porque os “produtos energéticos” dos Estados Unidos são sobretudo combustíveis fósseis: petróleo, gás de xisto e gás liquefeito. Estas importações irão abrandar mecanicamente o uso de energias renováveis no Velho Continente.

Por fim, Donald Trump garantiu que a UE se comprometa a comprar “vastos montantes” de armas aos EUA. E, mais uma vez, é uma má jogada. A UE, mas sobretudo os estados-membros, lançaram programas de rearmamento em grande escala em nome da “soberania europeia”. Esta seria a oportunidade para recriar e fortalecer a fileira na Europa. Mas a UE decidiu continuar a tornar o Velho Continente em grande parte dependente do fornecimento de armas dos Estados Unidos. Dito de outra forma: os planos de rearmamento, que muitos países, a começar pela França, financiarão com cortes nas despesas sociais e redistributivas, permitirão a transferência de fundos para os Estados Unidos. Para sermos ainda mais claros, podemos resumir assim: a austeridade europeia financiará o crescimento americano.

Acordo de Vassalagem

Na noite de domingo, a imprensa económica de língua inglesa celebrava o facto de um acordo ter evitado “uma guerra comercial”, mas, na realidade, a forma da UE evitar a guerra foi capitular. Ursula von der Leyen podia bem afirmar a sorrir que o acordo foi um “bom acordo” e que foi “duro” de negociar. A realidade é que cedeu à pressão dos industriais europeus que não queriam correr o risco de serem excluídos do mercado americano.

Na sexta-feira, 25 de julho, no Le Figaro, Bernard Arnault, diretor-executivo da marca de produtos de luxo LVMH, declarou preferir um “acordo visivelmente desequilibrado” a um “braço de ferro”. Na verdade, estes industriais só trabalham para si próprios: estão pouco preocupados com a concorrência americana e com o modelo social europeu; apenas se preocupam com o seu acesso aos mercados estrangeiros.

“O acordo comercial negociado pela Comissão Europeia com os Estados Unidos trará estabilidade temporária aos atores económicos ameaçados pela escalada alfandegária americana, mas é desequilibrado”, preveniu o ministro francês delegado para a Europa, Benjamin Haddad, na rede social X, alertando para o risco de os europeus “perderem o rumo se não acordarem”.

Um acordo tão assimétrico confirma que a UE de Ursula von der Leyen não tem outras ambições para além de se manter presa ao gigante americano. Este acordo constitui um desmentido retumbante de vários meses de discurso sobre a construção de uma soberania europeia e da ideia de que o bloco, enquanto primeira potência económica potencial do mundo, teria os meios para construir um poder geopolítico equivalente.

O acordo alcançado na noite de domingo é, de facto, um acordo de vassalagem. Donald Trump nunca escondeu as suas intenções e o acordo assinado há poucos dias com o Japão tinha confirmado o seu objetivo. Para a administração norte-americana, trata-se de capturar parte do valor criado nos países aliados, de garantir o acesso das empresas americanas aos mercados e recursos desses países e, finalmente, torná-las dependentes dos produtos americanos.

O acordo UE-EUA cumpre cada um dos seus objetivos: a UE apoiará o crescimento dos EUA, dependerá do petróleo e das armas do outro lado do Atlântico e não tocará nos rendimentos digitais dos gigantes tecnológicos dos EUA. A vitória de Washington é total.

Por seu lado, Bruxelas apenas pode afirmar ter limitado os danos. Certamente, haverá uma eliminação recíproca dos impostos alfandegários sobre certos produtos, como a aeronáutica, os produtos químicos ou certos produtos agrícolas. Mas a realidade continua a ser a mesma: o mercado europeu não está protegido. Enquanto Donald Trump enterra, no seu país, a crença nos benefícios da globalização, a União Europeia sacrifica o seu mercado interno e a sua soberania aos interesses dos seus exportadores. Por isso, não é de estranhar que o primeiro chefe de Governo a reagir tenha sido Friedrich Merz, o ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, que acolheu um acordo que “evita uma escalada inútil”.

A UE, mais do que nunca um anão político

Mas também aí, esta história, que nos próximos dias tentará esconder o desastre que este acordo representa, é dificilmente sustentável. A escalada foi liderada pelo próprio Donald Trump, que ameaçou a UE com tarifas de 25% e 30%, sem que a UE ousasse realmente responder e procurasse responder com ameaças equivalentes. E compreende-se porquê: um conflito com os Estados Unidos é, na realidade, impensável para o atual executivo europeu e para a maioria dos seus governos. E a UE continua a ser a UE: um bloco comercial focado no apoio aos seus exportadores em detrimento da procura interna.

Porque o que pode acontecer agora? Os exportadores europeus terão de reduzir os seus custos para se manterem competitivos nos Estados Unidos, enquanto o mercado europeu será dominado pelos produtos americanos. O financiamento da compra de armas pelos EUA exigirá cortes maciços nas despesas sociais, embora as despesas militares impulsionem apenas modestamente o crescimento interno.

Como resultado, as empresas europeias que dependem do seu mercado interno sofrerão, enquanto os exportadores aproveitarão para justificar economias de escala. A procura interna europeia só pode, portanto, enfraquecer. E é isso que procura Donald Trump, que segue uma lógica predatória: o seu objetivo é transferir valor da UE para os Estados Unidos. Esta lógica aplicada a uma área que já está a sofrer um crescimento anémico só pode ter efeitos negativos a médio ou longo prazo. Principalmente porque será necessário investir do outro lado do Atlântico e não na Europa.

Em suma, este acordo revela o facto de a UE não ter qualquer desejo real de aparecer como uma “potência” independente. Procura manter-se, acima de tudo, aquilo que é: uma máquina de exportação sob a proteção militar e política dos Estados Unidos. É um anão político que, para continuar a vender máquinas-ferramentas e automóveis no estrangeiro, está disposto a ignorar os seus problemas sociais tanto quanto a crise ecológica ou o exercício autoritário do poder por Donald Trump. O alívio demonstrado pelos líderes europeus na noite de domingo tinha algo de cobarde.

Romaric Godin é jornalista no Mediapart. Especialista em economia e autor de vários livros entre os quais La guerre sociale en France: aux sources économiques de la démocratie autoritaire publicado nas éditions de la Découverte em 2019. Artigo publicado originalmente no Mediapart.

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