EUA ameaçam abandonar IEA por projeções contrárias aos combustíveis fósseis

Governo negacionista de Trump contesta projeções “irrealistas” da Agência Internacional de Energia sobre expansão de renováveis nos próximos anos.

ClimaInfo, 24 de julho de 2025

O desmonte das políticas climáticas nos Estados Unidos de Donald Trump não se limita aos limites fronteiriços do país. Em mais uma ação no mínimo duvidosa, o governo norte-americano sinalizou a possibilidade de deixar a Agência Internacional de Energia (IEA) se esta não for “reformada” em prol dos combustíveis fósseis. Para a Casa Branca, as projeções de crescimento das fontes renováveis de energia nos próximos anos feitas pela Agência são “irrealistas” e prejudicam a indústria fóssil.

A irritação de Trump não é recente. Há anos, grupos negacionistas nos EUA criticam as projeções da IEA para a demanda futura de petróleo, que preveem uma estabilização nesta década e a perspectiva de queda sustentada a partir de 2030. Esses grupos, agora encastelados na Casa Branca de Trump, acusam a IEA de distorcer suas projeções para atender aos interesses dos defensores das fontes renováveis de energia.

“Isso é um absurdo total. Faremos uma de duas coisas: reformaremos a forma como a IEA opera ou nos retiraremos”, afirmou o secretário de energia dos EUA, Chris Wright, citado pela Bloomberg. Ele também disse que tem mantido diálogo com o diretor-executivo da IEA, Fatih Birol, sobre o “futuro” da agência.

Os aliados republicanos de Trump no Congresso norte-americano já sinalizaram a intensificação da pressão sobre a IEA. O Comitê de Apropriação da Câmara dos Representantes aprovou nesta 4a feira (23/7) um relatório que defende a retirada do financiamento dos EUA à agência, sob a alegação de que ela “abandonou a objetividade” ao projetar o crescimento das energias renováveis.

“O Comitê conclui que a agência abandonou a objetividade nas informações cruciais sobre o fornecimento de energia que produz e, em vez disso, buscou informações politizadas para apoiar a defesa de políticas climáticas. Essa mudança bem documentada prejudica a tomada de decisões dos formuladores de políticas e ameaça a segurança energética e os interesses econômicos dos EUA”, escreveram os parlamentares republicanos. A Bloomberg deu mais detalhes.

A ofensiva negacionista de Trump contrária à IEA segue o mesmo padrão de desmonte capitaneado por ele nos EUA. A iniciativa ignora a realidade da ciência e da economia para beneficiar a indústria de combustíveis fósseis em detrimento do clima e do futuro do planeta.

  • Em tempo: Por falar em “ignorar a ciência”, o Guardian destacou o alerta de Jason Burnett, ex-administrador-adjunto da Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos EUA na gestão George W. Bush, sobre a tentativa do governo Trump de relativizar uma conclusão de já 16 anos sobre o dióxido de carbono e outros cinco gases de efeito estufa prejudicarem a saúde pública. A medida pode servir para atropelar as restrições atuais de poluentes na indústria em geral, o que representaria um retrocesso de décadas no combate à poluição do ar. “A ciência é clara, os impactos são claros, e a lei é clara. O desafio deveria ser como reduzir as emissões, em vez de debater se há um problema”, afirmou Burnett.

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