Cientistas pedem urgência em ações para salvar oceanos
Manifesto pede mudanças ambiciosas baseadas em evidências científicas para que Chefes de Estado atuem a favor do oceano. Conferência da ONU sobre oceanos começou nesta segunda
Rede Ressoa e Germana Barata, (o)eco, 9 de junho de 2025
Cientistas reunidos no primeiro congresso One Ocean Science (OOS), organizado pelas Nações Unidas, em Nice, na França, lançaram um manifesto em favor da ação pelo Oceano. O documento reúne recomendações práticas que podem ser implementadas por governo, representantes empresariais e sociedade civil na proteção dos oceanos e serve também para subsidiar as decisões que serão tomadas na Conferência do Oceano das Nações Unidas (UNOC3), que começou nesta segunda-feira, também em Nice (França), e vai até sexta (13).
“Os tempos de atraso e indecisões acabaram. Exigimos ação imediata, guiada por evidências, baseada em equidade, e fundamentada na responsabilidade compartilhada de salvaguardar o oceano para esta e as futuras gerações”, diz o Manifesto Ciência para Ação pelo Oceano.
Além da Ciência, a necessidade de integrar os conhecimentos tradicionais na tomada de decisões fica patente, bem como a relevância de compartilhar amplamente os dados científicos com a comunidade acadêmica e com sociedade de forma “aberta, gratuita e sem restrição”.
O Manifesto é o primeiro de uma série de documentos e declarações que serão publicados em defesa do oceano até o final da próxima semana.
Na quinta (05), a comissão organizadora, embaixadoras e embaixadores do OOS apresentaram um documento com dez recomendações que serão levadas aos chefes de Estado e demais autoridades no próximo domingo (8) durante a abertura da Conferência do Oceano das Nações Unidas (UNOC3).
As recomendações pedem ações para reverter os problemas mais urgentes enfrentados pela humanidade, e foram construídas ao longo de um ano pela comunidade científica. São elas: fomentar o conhecimento integrado na gestão do oceano; a promoção de soluções para o clima baseadas no oceano; a proteção e restauração de ecossistemas marinhos e costeiros; a interrupção da exploração de mineração de regiões do mar profundo e a expansão do conhecimento sobre o oceano; benefícios equitativos do uso de recursos genéticos marinhos; o fim da pesca predatória e ilegal, não regulamentada e não reportada, e da poluição por plásticos; investimentos em sistemas alimentares marinhos sustentáveis; a redução de emissões de gás carbônico (CO2) e dos impactos do transporte marítimo; e investimento no conhecimento transdisciplinar nas ações pelo oceano.
Alejandra Villasboas, embaixadora do OOS e diretora executiva da organização Amigos da Ilha de Coco, na Costa Rica, se mostrou otimista em relação ao momento atual em que a comunidade científica se une para pedir ações baseadas em evidências científicas e dar visibilidade às ciências oceânicas dentre as demais áreas do conhecimento. De acordo com Jean Pierre Gattuso, diretor do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS), as ciências oceânicas recebem apenas 1,7% dos investimentos para pesquisa mundialmente, apesar do oceano cobrir dois terços do Planeta, uma desproporção que precisa ser reparada.
O documento, de 16 páginas, reitera que é urgente proteger ao menos 30% do oceano até 2030, o que seria mais do que triplicar o percentual atual, eliminar gradualmente o uso de combustíveis fósseis e investir no conhecimento sobre o mar profundo, o qual é estudado em menos de 2%, mas a expansão da mineração cria alertas sobre os impactos que a atividade irá criar para organismos e ecossistemas ainda desconhecidos.
Responsabilidade social sobre o oceano
“Os cozinheiros têm um papel pedagógico de usar os recursos marinhos de forma sustentável e sensibilizar o pescador e os consumidores”, afirmou Olivier Roellinger, chef de cozinha francês ganhador de 3 estrelas Michelin e dedicado ao projeto Ethic Ocean, que divulga formas éticas e sustentáveis de usar recursos marinhos. De acordo com ele, há três formas de manter o uso sustentável de recursos marinhos: conhecer a espécie a ser consumida, se está ameaçada por exemplo; a técnica de pesca usada, se é agressiva ou causa impacto em outras espécies; e o tamanho do animal, se atingiu a fase reprodutiva ou ainda é juvenil.
Outra contribuição interessante veio do velejador Boris Hermann, que já competiu seis vezes circunavegando o planeta e hoje coordena o projeto “A race we must win” (uma corrida que precisamos vencer), que mescla navegação, ciência e educação. “Precisamos usar o poder da natureza para aumentar a velocidade dos barcos e navios, sem impactar o oceano”, defendeu. Para ele, a indústria naval precisa lidar com as questões que envolvem seus 3% de emissões de gás carbono na atmosfera, mas as soluções de transição energética disponíveis são caras e ainda lentas.
As falas de Olivier e Boris mostram que é possível ampliar a conscientização de consumidoras e consumidores, do setor empresarial e de profissionais para mudarem sua relação com o oceano. O manifesto e as recomendações divulgadas são um alerta para a responsabilidade social e política que precisam ser conhecidas e transformadas em ação.
“Estamos determinados a ter nossa voz ouvida. O manifesto é um chamado para a ação, então se vamos transformar isso em políticas diretamente, não sabemos, mas estamos transmitindo nossa mensagem”, declarou François Houiller, diretor do Instituto Francês para Ciências Oceânicas (Ifremer) e co-organizador do OOS.